sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Um despropósito típico das minhas quintas

Quando do lençol frio e amarrotado
Meu eufemismo gentil e sarcástico
Ergueu teu pau caído,
E, pleno de angustiante dor
Socaste-me as costelas febris, de punhos duros,
O ódio selvagem a que te dispunha, sucumbiu;
Quando cuspiste com a saudade do meu nu
A fidelidade que eu te prometera de início,
E jogaste-me ao rosto sujos e pútridos palavrões
Eu vi no teu colo a vergonha de um homem degradado
E, de repente, no rosto baixo,
Repleto de vergonha e ira,
De teu peito rompeu um grito: um choro
De um não mais concerto,
Um não mais remendo
Um não mais amor.

l.fontel
(um tributo a velhos términos)

terça-feira, 8 de julho de 2014

Hey Jonhy!
Jonhy gostava de chupar bala nas noites subversivas de sua pequena cidade, julgava-se senhor do vento que cuspia o litoral. Nunca teve medo, Jonhy se punha indiferente a qualquer especulação espiritual. O garoto flutuava sobre a mente dos eunucos e claustrofóbicos inimigos. Seus camaradas variavam entre os que podiam pagar a bebida, as garotas ou o cigarro. Nunca se envolveu com os tiras, nunca riscou asfalto nem perturbou qualquer indignação política ou filosófica. Jhony sempre saia limpo das mais complexas situações e de botas brilhantes após seu cotidiano choque com a lama dos cérebros alheios. Jonhy não quer muito, nunca quis, mas também nunca abriu mão das etiquetas. Ele nunca precisou dormir, tomar banho ou estudar. Jonhy nunca precisou de nada além de um maço de cigarros e uma dose de álcool, vive e se alimenta da inveja dos acadêmicos e trabalhadores proletários. Jonhy sempre esteve e parece que sempre estará de boa, Jonhy não esquenta, todo mundo quer ser Jonhy.

l,fontel
à Charles Bucowskihtt

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014



São Petesburgo, 9 de fevereiro de 1881

No tato mal feito das mãos que sangram
Trago o presente do velho corvo, repulsivo e nojento.
Tantos foram os gritos que evaporaram
frente à bruma etérea de nossos hálitos noturnos.

Noites decadentes.Valas abertas.

Trages finos sem pele.

Restam garrafas e corações vazios
 quebrados e já sem artérias.

Passos na escuridão
vagabundando as 3h da madrugada

distantes do sol, pervertindo a lua.


Perversa lua cheia, que transformou pra sempre
aqueles homens em lobos.

Não raptarei donzelas.
Há uma quietude muito triste nas coisas planejadas.

Desde meus amores abandonados na lama
até a dor pulmonar de não ter conseguido
tornar-me sequer um inseto.
Sujo e rastejante
repouso eu, sem culpa.




l.fontel.
à Fiodor
Colortrend, das máscaras.

Faminta
Etérea
Desenho com tinta negra
Os olhos para aquela noite.

Tenho receio do provável passo errado.
Torno rósea a face pálida ao
circundar possibilidades.

Misturando o desejo com o conforto de velhos amigos,
Colonizarei mentes desavisadas.

Na sombra fúnebre dos amores já mortos
Pontuarei patologias cárdio
Satirizando a esperteza dos homens.
tão convictos mortais.

E na fumaça lúgubre de um primeiro cigarro
Enrolarei nossos egos na corda de um poema enforcado.

Já totalmente mascarada de rímel escorrido
Farei com que doa, internamente, uma dor inaudível, contínua e
apaixonante.

A noite me cospe palavrões só pela suposição
De me utilizar de suas sombras para cobrir-me as cicatrizes.

Mas já é tarde
da beleza fiz pranto.
Da ignorância dos meus 15 anos à anomalia sentimental destes 21.

Sorrio, porque tenho
no rosto que a maquiagem esconde,

todos os desejos do mundo.

l.fontel.